Aos 38 anos, a atriz Carolina Dieckmann comemora
boa fase no cinema, curte
o anonimato em Miami, se organiza para nova série na TV e diz que papel
de bonita ‘não é o mais interessante’
Ela ainda não chegou aos 40 anos mas já soma 24 de carreira. Mãe de
dois filhos, um de 17 e outro de 9, foi precoce em tudo, mas não deseja
que eles sigam seus passos. “Acho que um menino de 13 anos tem que
estudar, morar fora do País, namorar e principalmente, ter a liberdade
de errar”, pondera a atriz Carolina Dieckmann, que há seis meses trocou o Rio por Miami, onde está por um ano acompanhando o marido, que está trabalhando na Florida.
Lá, Carol – que aos 13 anos já era celebridade por aqui – está
curtindo a sensação de ser anônima. E está gostando. Admite que
precisava mesmo dessa pausa. “A experiência está sendo ótima. Posso ir e
vir sem ser observada toda a hora”, disse à repórter Sofia Patsch
durante um ensaio fotográfico para a marca de calçados Mundial, em São
Paulo. A propósito, comentou também que o papel de mocinha bonita “não é
o mais interessante” e com o tempo os papéis “vão ficando mais
profundos, você também tem mais pra dar”.
De licença da TV, a atriz já tem o que fazer na volta: estará ao lado
de Selton Mello na série 13 Dias Longe do Sol, produzida pela O2 para a
Globo. Sobre o elogiado papel em O Silêncio do Céu, do diretor
Marco Dutra, em que protagonizou uma forte cena de estupro, Carol conta
que se entregou de corpo e alma. “Mas quando acabou, eu estava
exausta”, admitiu. A seguir, os melhores momentos da entrevista.
Como está sendo a experiência de morar em Miami?
Tô
lá e cá, na verdade. Meu filho mais velho, Davi, ficou no Rio. Ele quer
se formar com os amigos da vida inteira, só falta um ano. Estou vindo
uma vez por mês.
Adaptou-se bem à sua nova rotina nos EUA?
Estou superadaptada, gostando muito da experiência.
Você tem sido muito elogiada por seu trabalho no filme O Silêncio do Céu, de Marco Dutra. Como foi a experiência? Como se preparou para fazer a forte cena de estupro?
Foi
difícil. Não houve uma grande preparação para filmar, minha única
preocupação com a cena foi estar disponível o tempo inteiro para o
diretor e reagir instintivamente com os atores. Foi forte, chorei muito
quando terminou. A situação era muito tensa e isso ficava ainda pior com
os barulhos, a força que precisei fazer, a faca. Fiquei exausta.
O ator argentino Leonardo Sbaraglia, seu parceiro de cena no
filme, disse que além de linda você é muito talentosa. Como foi
trabalhar com ele?
Foi uma delícia trabalhar com o Leo. Ele
é um ator intenso, com muita experiência e profundidade, colega
incrível, que se interessa pelo outro.
Como lidou com a questão da língua, já que o filme foi gravado em espanhol e você já disse que não domina o idioma?
Sobre
essa questão da língua foi muito bom ter vencido essa barreira. Eu
tinha muito medo, mas quando comecei a estudar percebi que o medo era
bem maior do que a dificuldade real. Adoro desafios e me sinto bem ao
enfrentá-los. Adoraria ter novas oportunidades.
‘NÃO SEI O QUE GANHEI OU PERDI.
ESSA É MINHA ÚNICA EXPERIÊNCIA’
Você começou a trabalhar cedo, casou e teve filho cedo. Olhando para trás, arrepende-se de algo?
Esse
pensamento e esse julgamento são muito difíceis porque eu só vivi desse
jeito, não sei o que ganhei ou perdi porque essa é a minha única
experiência. Mas não desejo, por exemplo, para os meus filhos, a vida
que tive, não por ter uma crítica e achar que foi ruim ou bom,
simplesmente porque entendo que um menino de 13 anos tem que estudar,
morar fora do País, namorar e principalmente, ter a liberdade de errar.
Quando você começa muito cedo a dar entrevistas, ser famosa e tudo, fica
sendo cobrada o tempo todo, e lidar com isso é difícil, né?
Como reagia a tudo isso quando começou?
Não
tinha noção do que era errar naquela época. Eu só sabia ser verdadeira.
Não existia esse pensamento: “ah, o que eu estou fazendo está certo,
está errado”. Com 13 anos não tem isso. E eu não tenho arrependimento
não, sempre fui precoce, quando era criança só queria saber de coisa de
adulto, queria ter filho bem nova, ter uma família. E sempre fui muito
responsável com horário, com o que eu tinha que fazer, com o que eu
sabia que era certo. Eu tinha muito comprometimento com aquilo. Já tinha
uma seriedade fora do normal, assim, de lidar com a profissão e com o
que eu me propunha. Acho que não teria como ser diferente por ser eu. A
Carolina é assim.
‘SER ANÔNIMA É ÓTIMO. SER NOTADA O TEMPO TODO CANSA’
Você passa a impressão de ser uma pessoa muito segura de si,
toma conta da sua carreira desde o início. O que acha da questão do
feminismo? Se identifica?
Eu não me sinto representante de
nada. Isso é uma das coisas que mais me angustiam na vida, em vários
momentos ter que pensar sobre o que vou falar ou como vou agir porque
vai influenciar as pessoas. Quando é através do trabalho é diferente,
porque é um personagem que vai levar a uma discussão, abordar um assunto
A, B ou C e fazer as pessoas pensarem sobre a questão. Mas quando se
trata de pessoa física é muito complicado, ninguém é exemplo, né? As
pessoas são sempre pessoas, com suas histórias, seus erros e acertos.
Sente-se muito cobrada nesse aspecto?
Procuro
não estar nesse lugar. Sou uma cidadã comum. Não acho que a minha
opinião tenha mais importância do que a dos outros, embora, às vezes, as
pessoas me vejam desse jeito. Não me sinto assim, me vejo igual a todo
mundo, com as mesmas dificuldades ou facilidades – e é bom que seja
assim. Eu gosto de me sentir normal.
Mas, tendo sido famosa desde adolescente, acha que sabe o que é ser ‘normal’?
Olha,
essa experiência que eu estou tendo agora de morar fora do País está
sendo ótima para mim. Posso ir e vir sem ser observada toda a hora, o
fato de você ser observada o tempo inteiro cansa. Não cansa no sentido
de ser chato, mas é sempre um olhar sobre você. Então o tempo inteiro
aquele olhar, você acaba sentindo e cansando. Quando tira isso, dá um
alívio.
Como uma atriz muito bonita, fez muito o papel da mocinha. Com o passar dos anos, que papéis se vê fazendo?
Ah,
os mais interessantes. Porque o da bonita com certeza não é o mais
interessante. Acho que com o tempo os papéis vão ficando mais profundos,
você também tem mais pra dar, mais conteúdo. Tudo tem seu tempo, o
papel da mocinha também é legal quando somos jovens. A vida é assim,
tudo tem o seu momento.
Como está lidando com a passagem dos anos?
Vejo a
passagem do tempo com muita beleza e com cada vez mais maturidade e
profundidade. Acho que a beleza vai se transformando em outra coisa, vai
deixando de ser plástica.
Pretende investir em uma carreira internacional?
Não existe um projeto, mas achei curioso. Quem sabe acontece naturalmente.